A obesidade canina já é a doença nutricional mais frequente
nos países desenvolvidos, com uma prevalência na faixa de até 44%.
Mesmo no Brasil, em capitais como São Paulo, o índice de cães gordinhos é
alarmante.
E a má notícia é que muitos donos não percebem; ou
pior, banalizam a obesidade de seus companheiros caninos. Pensam que o cão está
é “forte”, que ele fica “mais bonito assim”, que esse é “o porte esperado para
a raça”. Tenho visto até mesmo filhotes obesos, o que é ainda mais preocupante.
É esperado que cães no
peso certo apresentem uma cinturinha, quando observados de cima. É normal as
costelas serem palpáveis. Ué, com pessoas no peso ideal também não é assim?
Aliás, é curioso que em relação ao ser humano todo
mundo reconheça que manter o peso ideal não é apenas uma questão de estética,
mas de saúde. Paradoxalmente, permitimos que nossos cães engordem, mesmo
sabendo que assim eles estão sujeitos às mesmas doenças dos humanos gordinhos:
diabetes, artrose, etc.
Se você tem um cachorro que está acima do peso, não
encare esse artigo como um puxão de orelha. E sim como uma oportunidade de
reconhecer e encarar esse problema de frente, de entender os motivos que
levaram seu amigo a engordar e, finalmente, de fazer algo a respeito. Os animais
de estimação têm uma grande vantagem: eles não sabem abrir a geladeira.
Em outras palavras: é muito mais fácil fazer um cão
gordo atingir o peso ideal do que fazer o mesmo com um ser humano. Motivos que
levam as pessoas a engordar, como estresse profissional, frustrações pessoais,
TPM, ansiedade, baixa auto-estima, não valem para os cães. Tire proveito disso!
Você tem total controle sobre a dieta e sobre o peso de seu amigo peludo.
Exercitar esse controle é mais simples do que parece. Basta instituir uma dieta
caseira adequada para perda de peso e corrigir alguns maus hábitos. E pode
confiar: seu cachorro não vai deixar de te amar por isso.
Pelo contrário: ele vai te amar por mais tempo, já
que está comprovada a relação entre peso ideal e longevidade.
Fatores que levam à obesidade

Excesso de calorias
Ganho de peso é balanço positivo, uma questão quase
matemática. Quando a ingestão de calorias supera a demanda, o organismo tende a
armazenar essa energia extra na forma de gordura. Mas de onde pode estar vindo
o excesso de calorias?
Deixar a comida à vontade
Encher a vasilha do cachorro até a boca e esperar
que ele regule o próprio consumo é a maior roubada. Com um centro da saciedade
falho, os cães são capazes de comer muito além de seus requerimentos fisiológicos.
Ser uma draga é uma vantagem na Natureza, já que o canídeo é um predador
oportunista que precisa sobreviver a períodos de escassez. Mas o cão doméstico
recebe alimento todo dia sem fazer esforço, e essa gula acaba sendo um um
problema. Racionar a alimentação do cão adulto em pelo menos duas refeições
diárias, de acordo com sua idade e peso, previne obesidade e poupa dinheiro.
Porções generosas demais
A maioria dos cães devora a refeição em segundos.
Diante de um olhar que parece implorar por mais, muitos donos exageram nas
porções. É inútil fazer isso, pois fato é que a maior parte dos cães nunca está
satisfeita.
O cão comerá até se tornar um obeso mórbido e mesmo
assim não estará satisfeito. Melhor dar carinho quando ele fizer cara de
“quero mais”. No futuro ele vai te agradecer por estar no peso certo!
“Lanchinhos” e petiscos
Nunca deixe de considerar os “extras” oferecidos
entre as refeições. Eles somam calorias à dieta e podem pôr a perder o melhor
dos regimes. Pedacinhos dos lanches que os donos estão comendo podem parecer
pouca coisa para um humano. Mas imagine o que representam para um cão de
pequeno!
Mesmo inocentes frutas podem engordar, dependendo
do porte do cão e da quantidade oferecida. Além disso, dar petiscos sem motivo
reforça o comportamento de implorar comida fora de hora e pode acarretar desequilíbrios
à dieta. O truque é não interpretar todo pedido de atenção do cão como uma
manifestação de que ele está com fome. Ele pode estar simplesmente querendo
atenção.
Você pode recompensá-lo de outras formas. Um bom
passeio, uma sessão de brincadeiras ou uma gostosa escovada são gratificantes
para o cão e duram mais que o prazer relâmpago de engolir um pedaço de comida.
Muitos cães adoram lamber gelo, um “petisco” sem
calorias. Se a abolição dos lanchinhos não for possível, opte por petiscos
pouco engordativos, como rodelas de cenoura crua, pedaços de maçã sem sementes,
ossos crus grandes ou pedacinhos de queijo branco light. Se o cão estiver muito
acima do peso, desconte esses extras do total diário de alimentos. Procure
limitar os extras a 5 a 10% da dieta total.
Observação: é importante conversar com todos da casa – vovó,
criancinha, funcionários – para que todo mundo colabore com o regime do cão.
Alimentar uma vez ao dia
Com a correria do dia-a-dia, muita gente tem esse
hábito. Oferecem de uma vez ao cão a porção do dia todo. Recebo e-mails
perguntando se com dieta natural é possível fazer isso. Respondo que,
independentemente do tipo de dieta (se industrializada, se caseira cozida ou
crua), não é recomendável oferecer apenas uma refeição ao dia. Dados
epidemiológicos mostram que uma grande porcentagem dos cães obesos é alimentada
dessa forma.
O dono acaba exagerando no tamanho da porção. O
cão, claro, come tudo de uma vez. Fica sujeito à torção gástrica, condição
potencialmente fatal caracterizada pela distensão e rotação do estômago sobre o
próprio eixo. E na melhor das hipóteses, tem indigestão, gases e diarreia, além
de mal estar. Para cães adultos, o correto é dividir o total diário de
alimentos em pelo menos duas refeições.
Dieta inapropriada
Algumas vezes os cães engordam não porque os donos
oferecem petiscos demais, ou porções grandes demais, ou os alimentam apenas uma
vez ao dia. Mas porque a dieta não está corretamente formulada ou balanceada.
Veremos a seguir que, em geral, cães castrados, idosos, sedentários e raças
predispostas à obesidade, entre outros, requerem uma dieta com menos calorias.
A dieta natural clássica, à base de meaty bones e
sem adição de carboidratos, costuma enxugar sem esforço os quilinhos extras da
maioria dos cães. Em contrapartida, uma dieta caseira rica em alimentos
gordurosos ou em carboidrato (arroz branco, frutas), e/ou pobre em fibras é a
receita para engordar cães com requerimentos energéticos modestos. Mais à
frente veremos como deve ser formulada a dieta caseira para perda de peso.
Problemas comportamentais
Algumas pessoas relatam que não conseguem controlar
o tamanho das refeições porque seus cães ficam bravos quando têm a porção de
comida reduzida. De fato, assim como as pessoas, cães podem ficar mais agitados
e ansiosos quando estão de dieta.
Veremos que é possível driblar isso com uma dieta
adequada – rica em fibras, que produz maior saciedade – oferecida várias vezes
ao dia. E com distrações, como passeios e brincadeiras. Mas os cães não devem
ficar agressivos. Se isso acontecer é porque há problemas na relação cão-dono.
Nesse caso, um especialista em comportamento canino deve ser consultado.
Falta de atividade física
O exercício físico é tão
importante que muitas vezes sozinho consegue prevenir ou combater o ganho de
peso. Cães que praticam atividade regularmente evitam perda óssea e desenvolvem
a musculatura (massa magra). Mais músculos = um metabolismo mais acelerado,
consumidor de mais energia.

Cães de porte pequeno até conseguem ter suas
necessidades supridas em espaços menores – embora os passeios diários ofereçam
estímulo físico e mental bem-vindo.
A vida em apartamento é um problema mesmo para cães
médios e grandes, que não têm espaço para correr. Para manterem o peso ideal
(sem falar na sanidade mental), a atividade física diária é fundamental para
esses cães. E não basta dar uma voltinha no quarteirão. Estamos falando de
exercícios intensos, com duração de pelo menos 40 minutos, ao menos uma vez ao dia
– inclusive aos finais de semana. assim evitando o estresse e comportamentos inadequados do cães
Importante: jamais dê início a uma rotina de exercícios de
forma abrupta. Cães sedentários e acima do peso costumam estar fora de forma. A
combinação “excesso de peso + exercício extenuante” pode prejudicar as articulações
e ligamentos. Comece de maneira gradual e prefira atividades de baixo impacto,
como caminhada, natação ou hidro esteira.
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